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A Síndrome de Burnout: uma alma consumida.

  • Mariana Giglio
  • 21 de mar. de 2024
  • 3 min de leitura


pessoa sentada questão existencial

Quantas vezes presenciamos pessoas próximas inseridas em uma relação abusiva? Assim como nas relações humanas (amorosas, familiares e de amizades), o mesmo pode ocorrer na nossa relação com o trabalho. Podemos, por exemplo, estar inseridos em uma cultura organizacional cheia de abusos e desrespeito, e muitas vezes sem consciência de como esses fatores nos afetam, acabamos tolerando e normalizando coisas que nos adoecem cada vez mais.


A Síndrome de Burnout é um adoecimento crônico que não aparece de um dia para o outro, é desencadeado por um acúmulo de estresse e sofrimento relacionados ao ambiente de trabalho.


Fazendo uma analogia de um copo que está embaixo de uma goteira, gradativamente em algum momento ele transborda, por mais que cada gota d’água pareça “inofensiva”.


Essas gotas representam:

  • “cada sim que falamos quando queremos dizer não”;

  • “cada noite de insônia pensando no e-mail que precisamos responder”;

  • “aquele comportamento desrespeitoso de algum colega em uma reunião que toleramos diariamente”…

São inúmeras as situações que podem representar cada gota d’água.


O relato abaixo de uma pessoa que passou por um burnout mostra como esse “transbordar” ocorre, e o mais chocante é que certamente a maioria das pessoas se identifica com alguma situação descrita abaixo:


“Tudo começou com uma leve insônia. As tarefas que antes eram feitas com entusiasmo se tornaram um fardo pesado. A sensação constante de cansaço, a irritabilidade com colegas e familiares, a falta de concentração e a desmotivação profissional me consumiam. Eu me sentia como um robô, apenas realizando as funções básicas do dia a dia sem qualquer prazer ou propósito.

A pressão no trabalho era enorme. Horas extras intermináveis, prazos apertados, cobranças incessantes e a sensação de nunca ser bom o suficiente me corroíam por dentro. A vida pessoal se resumia a trabalhar, comer e dormir, sem tempo para hobbies, amigos ou lazer.

Um dia, durante uma reunião, tive um ataque de pânico. Meu corpo tremia, meu coração batia descompassado e a náusea me dominava. Saí correndo da sala e me tranquei no banheiro, chorando copiosamente. Foi nesse momento que tive a certeza de que algo estava profundamente errado…”


A síndrome de burnout é um problema sério que afeta a saúde física, mental e social do indivíduo. A Organização Mundial da Saúde a reconhece como um "fenômeno ocupacional" desde 2019 e, segundo a pesquisa Gallup, 23% dos trabalhadores em 142 países relataram se sentir esgotados no trabalho em 2022. E no Brasil, 30% dos trabalhadores apresentam risco de desenvolver a síndrome.


Vivemos em uma sociedade que valoriza o excesso de trabalho que leva à exaustão e “ser uma pessoa ocupada” é sinônimo de “ser uma pessoa importante”.


Michael Leiter, um importante pesquisador sobre o tema, definiu o burnout como “um colapso na relação entre trabalhador e ambiente de trabalho”. Não se trata apenas de cansaço, é um esgotamento emocional que te deixa sem energia para o trabalho, tanto dentro quanto fora do horário. O burnout é um problema sistêmico que exige soluções sistêmicas.


Apesar de anos de estudos, pesquisas e reconhecimento da OMS, ainda assim este tema é visto como um tabu e muitas vezes é minimizado e normalizado nos ambientes organizacionais e pela sociedade.


O indivíduo acaba se sentindo culpado, achando que não é capaz de suportar as exigências do mundo corporativo. Pressionado 24 horas por dia por produtividade e invadido pela tecnologia, trazendo grandes prejuízos para o equilíbrio de outras frentes importantes de sua vida.


Uma pessoa que vivencia esse processo aguentou um nível de estresse muito grande durante bastante tempo e a única forma de interromper esse ciclo foi a manifestação de sintomas no seu corpo. O corpo exerce uma função protetora e tem uma resposta imediata quando se sente ameaçado. Valorizar e estar atento às mensagens do nosso corpo é um caminho inicial para buscar ajuda.


Você merece viver uma vida plena e livre do burnout. Buscar ajuda profissional é o primeiro passo para alcançar esse objetivo.


"O que causa a depressão do esgotamento não é o imperativo de obedecer apenas a si mesmo, mas a pressão de desempenho. Vista a partir daqui, a Síndrome de Burnout não expressa o si-mesmo esgotado, mas antes a alma consumida.” autor Byung-Chul Han no livro Sociedade do Cansaço.



Mariana Giglio - Psicóloga Clínica

CRP: 06/88028

 
 
 

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